segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Se me olhares

Se me olhares,
peço que me escolhas
pela moita que faz
as folhas dos meus
cabelos.

Pois, em cada curva,
há grelos enrolados
em meus galhos apaixonados. 

Não te vá trepar nas árvores
de cabelos lisos. 
Estão escorregadias
nos dias de hoje.
Se fores, serás apenas 
chuvas para elas.

Eu, sim, com a minha moita,
posso te aparar na fibra
de meus cachos;
caso tu me caia de repente,
te darei agasalho permanente.

Assim, te abraçarei
em minha negritude que floresce
nas folhas do meus cabelos
libertos.

Faço-te saber, amado:
minha moita te acoita
por inteiro, decerto;
tem grelos de paixão em cada
curva de mim, para ti.

Daniel Lima
Coração de terra

Há tempos que não consigo plantar
uma flor que seja em meu coração,
nada é mais como aquela vastidão
sublime que um dia existiu neste lugar.

Reviro a terra a fim de plantar a flor
que, se germinar, a chamarei de amor,
mas os dias passam e nada acontece
e a esperança aos desaparece.

"Não entendo", esta terra já foi fértil!?
Era habitada por grandiosas árvores
e rodeada por esplendorosas flores.

Mas, agora, é um lugar totalmente hostil:
um atoleiro nefasto capaz de sufocar
qualquer flor que aqui se tente plantar.

Daniel Lima
Terapia Poética

Catalogando versos de ressentimento
o poeta jorra o sentimento na folha
a tirar do coração a rolha 
que por sóis e luas tamparam-no o alento.

Não há tinta de caneta que suporte
tantos registros de amargura e tormento,
de um coração num sofrimento
mais arrebatador que a própria morte!

Não dorme à noite ao abrir os olhos da alma
e, em minúcias e sarcasmos, revela o trauma,
pois, quando o coração está cheio, transborda

Lágrimas da desilusão que recorda.
Em murmúrios de desabafo acalma a alma,
e poeta, vezes triste, vezes alegre, vivalma!

Daniel Lima

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